Uma noite destas, estive numa agradável conversa com cerca de uma dezena de pessoas, nenhuma das quais com mais de 30 anos, sendo que a maioria se aproximava mais dos 20. O “Pial”, sítio onde nos encontrámos, abriu, de propósito para nós, já que, aos dias de semana, está fechado à noite. Por isso, o meu obrigado à D. Aline e ao Amir, que lá esteve, pacientemente, a aturar-me.
A reunião foi marcada desde a véspera à noite, por telemóvel e MSN. Foram todos aqueles com quem eu consegui falar. Os convites partiram, na sua maioria, de sugestões que me deram e convidei um de motu próprio.
Era um grupo heterogéneo. Só um vive no coração do Barreiro Velho. Outros vivem na sua “periferia”. Todos o frequentam e gostam dele.
Estiveram, a dar opiniões, a pôr questões e a preparar acções: uma engenheira Civil, em fim de mestrado em Hidráulica, fotógrafa; um estudante de Engenharia do I.S.T.; um licenciado em Ciência Política e Relações Internacionais pela F:C.S.H da Universidade Nova de Lisboa; uma estudante de Arquitectura; um licenciado em Língua e Literatura Inglesa (acho que é assim…), com curso tirado no Reino Unido; um fotógrafo de mérito, cuja actividade artística me “ofuscou” e a quem me esqueci de perguntar a sua formação académica, até porque isso não tem nada que ver para o caso…
E se faço referência à formação académica de quem, assim, respondeu, imediatamente, a um apelo de um semi-desconhecido, para uma actividade de participação cívica é só para provar que o discurso do “no meu tempo é que era bom” é tão tonto como a “argumentação” de laivos xenófobos que alguns, poucos, têm produzido a propósito do Projecto que defendo.
No discurso “geracional” das gerações mais antigas, há o hábito de confundir os epifenómenos com as epidemias. E de comparar os bons exemplos da sua geração com os maus exemplos das gerações posteriores…
Já quando se fala, por exemplo, dos ciganos, poucos se lembram do futebolista, meio-cigano, Ricardo Quaresma, do grande guitarrista Paco de Lucia, do mais famoso dançarino do mundo, Joaquin Cortez, do Presidente do Brasil Juscelino Kubitschek de Oliveira, ou, para não ir mais longe, do Presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, o meu camarada de Partido Carlos Miguel, Advogado de profissão!
A propósito disso tudo, existe um senhor, Jorge Pereira, de 39 anos, professor da disciplina de Geografia em Torres Vedras, que prepara uma tese de mestrado, na Universidade de Lisboa, no Departamento de Geografia que versa o tema da inclusão da comunidade cigana no sistema de ensino português. Mantém um blogue, “Duas margens” que convido toda a gente a visitar.
E, se souberem inglês e quiserem ver muitos mais, tantos e tão bons que nem vos passa pela cabeça, é só irem ao site Ciganos Famosos e descobrirem, com surpresa, desde Prémios Nobel ao Elvis Presley. Nenhum trabalha no Mercado da Verderena mas, segundo o que consta, o pai do Quaresma ainda gosta de vender na feira de Vândoma.
E, já agora, também não custava muito que, por cá, se começasse a pensar assim:
Jovem cigano paga universidade dando informações aos turistas
Um jovem de etnia cigana ocupa as férias a dar informações aos turistas pela Junta de freguesia da Ericeira, que em troca lhe paga a universidade com as receitas da reciclagem.
Piménio Ferreira, de 20 anos, irá ingressar no terceiro ano de Engenharia Física, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e recebe apoio financeiro da junta de freguesia da Ericeira, donde é natural, desde o último semestre do ano lectivo passado.
Nessa altura os pais ficaram desempregados e com problemas de saúde, após uma operação da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, que lhes confiscou a carrinha que utilizavam na venda ambulante.
Apesar de ser bolseiro, os problemas familiares de Piménio não lhe permitiram suportar os custos de estudar. À beira do desespero, decidiu pedir ajuda à autarquia, para evitar o «cenário negro» da desistência do curso superior.
A reciclagem dos quarenta metros cúbicos de latas de sumos e outros refrigerantes, depositados em meia dúzia de ecopontos, bem como de velhos electrodomésticos, como frigoríficos e máquinas de lavar, recolhidos pelos serviços da junta, é suficiente para daí arrecadar a verba necessária para o jovem poder concluir a licenciatura.
Segundo o presidente da Junta de Freguesia da Ericeira, Joaquim Casado, a Junta tem pago as propinas na totalidade e os livros, facultando ainda o acesso aos computadores, internet e impressora, para além das fotocópias necessárias.
De acordo com Joaquim Casado, o Piménio é um investimento que vale a pena, pois vai transformar-se num exemplo para a sociedade. Enquanto sonha em ser engenheiro físico e participar num projecto de fusão nuclear, Piménio percorre as ruas da Ericeira, vestindo uma t-shirt da autarquia com a frase «eu ando por aí», aludindo ao trabalho de que também foi incumbido: encontrar jovens carenciados com o gosto de estudar.
8 comentários:
De há umas semanas para cá, tenho vindo a receber as actualizações ao blogue do António Cabós Gonçalves na minha caixa de correio electrónico. A minha curiosidade inicial transformou-se num interesse mais vincado, muito por causa da verve com que o bloguista esgrime os seus argumentos, mas também por senti-lo a lutar contra verdadeiros monstros: a intolerância, a estupidez, a tacanhez.
Tendo deixado de viver no Barreiro, mas estando ligado à Terra por mais que muitos laços, sou da opinião que este movimento merece ser apoiado, acarinhado, levado mesmo em ombros: isto é política no seu melhor, que não se vende nem verga a escuridões ou a compadrios! E a melhor prova de maturidade política é sermos capazes de concordar com quem tem razão, independentemente de tudo o resto.
Cabós, concordo contigo: o Barreiro Velho merece mais, merece vida, merece o lugar que a História já lhe proporcionou e que a Economia lhe retirou. Aliás, isso não é só o Barreiro Velho que merece, mas sim toda a freguesia do Barreiro. Um Mercado, com a sua côr, com o seu movimento, poderá bem ser o impulso de que o Barreiro Velho precisa para abanar a modorra das manhãs de fim-de-semana...
Quanto à intolerância rácica ou étnica, é espantoso que numa Terra com a história do Barreiro tais questões ainda se levantem. A memória das gentes é demasiado curta, mas o coração devia falar em primeiro lugar.
Um abraço para ti, Cábós. Sei que não desistes.
António Chagas
esse discurso é de quem só tem muita teoria e pouca prática.
Vá viver uma semana para a Quinta da Mina e depois conte-nos como foi e os amigos que fez.
Intolerância e xenofobia da pior espécie em:
http://eusoucontraomercado.blogspot.com/
A ti, anónimo, que acusas quem (não?) conheces sem ter a coragem de mostrar a cara, respondo à tua reacção com palavras de quem também se indignou:
"
Primeiro prenderam os comunistas,
E eu não disse nada porque não era um comunista.
A seguir prenderam os judeus,
E eu nada disse porque não era um judeu.
Logo vieram pelos operários,
E eu nada disse porque não era nem operário nem sindicalista.
E então meteram-se com os católicos,
E nada disse porque eu era protestante.
E quando, finalmente, vieram por mim,
Já não restava nada para protestar."
A liberdade é a única coisa pela qual vale a pena lutar até às últimas consequências.
António Chagas
Uma família de ciganos no Barreiro tem normalmente dois carros:
- uma carrinha, quase sempre de cor branca e um automóvel de elevada cilindrada, AUDI, BMW, VOLVO, quase sempre de côr preta.
É uma família que normalmente usufrui de Rendimento Social de Inserção (RSI), de acordo com o agregado familiar.
Um agregado familiar que é acrescido, com mais umas quantas certidões de nascimento de filhos nascidos sabe-se lá onde.
Quantos mais filhos, maior o RSI, que lhes cabe.pois.
Nos CTT do barreiro, são pagos RSI's de elevado valor a ciganos que deixam o Gipe ou BMW (topo de gama) à porta.
Os ciganos recebem Rendimento Social de Inserção, sem nunca terem feito um cêntimo de desconto para a segurança social. Registe-se.
Os ciganos recebem outros apoios (pagto renda de casa, de facturas de luz e de água atrasadas, etc), também, da Acção Social, Serviço da Segurança Social sediado na Rua dos Ferroviários.
Basta comparar o número de cigano(a)s que se vêem no Centro de Emprego do Barreiro. Muito poucos.
E o número de cigano(a)s que "frequentam" diariamente a segurança social do barreiro. Muitos.
É bom que se diga, que os funcionários destes organismos, como têm um buraquinho ao fundo das costas e filhos para criar, tratam de tudo, para que os senhores ciganos tenham tudo e "não lhes falte nada". ai não.
É que a saída é às 5 da tarde, e pode haver "espera", como já aconteceu.
Se quizerem confirmar, dirigam-se ao Centro de Emprego e à Segurança Social, e procurem informar-se.
Quinta da Mina !
Vale a pena fazer uma reportagem da Quinta da Mina, como se fez do Sindicato dos Ferroviários.
Para divulgar o estado de destruição, a que os ciganos levaram aquela urbanização que era tão bonita.
Dói, ver, ali na quinta da mina, os milhões de euros pagos por todos nós, através dos impostos, e aplicados pelo Estado (autarquia) nessa habitação social, para dar uma casa condigna aos senhores ciganos, que pagam 5 ou 10 euros por mês de renda.
Casas que eles se encarregaram de destruir, de vender uns aos outros.
Enfim, uma maravilha.
Perante estes factos, e muitos outros, é de desistir da causa gitana.
Os ciganos não estimam, nem reconhecem, correspondendo, com uma atitude de verdadeira integração, o apoio que lhes tem sido dado.
Quantos barreirenses em dificuldades de vida, não precisariam de uma casa daquelas, e provavelmente iriam estimá-la muito mais ?
Por exemplo, muitos residentes do barreiro velho, que nem uma casa de banho têm em casa, e por isso vão tomar banho aos sanitários da piscina.
Esses residentes do barreiro velho seriam os primeiros a terem direito a uma casa da quinta da mina, ou em qualquer outra parte, das casas que pertencem à CMB.
Muitos trabalharam, a vida inteira, hoje são idosos, mas descontaram a vida inteira para o estado.
Não teriam direito, em primeiro lugar, à quinta da Mina ?
Mas não, foram dadas pérolas ao porcos ......
Sim porcos, quem suja e não limpa é porco.
E a quinta da mina é um autêntico chiqueiro de sujidade.
By the way, o mercado da verderena é só de vendedores de etnia cigana ?
Não percebo esta obsessão de defesa sobre os ciganos.
Têm direitos e deveres, como qualquer cidadão neste país.
Ciganos ! Amigos ! O povo está com vocês,
... mas já chega de mamar, na têta do estado.
trabalhem, verguem a mola, como os restantes portugueses.
Alguém me explica como é que um cigano a vender t-shirts a 5,00 EUROS, no mercado da verderena, consegue comprar uma carrinha BMW, novinha, gantes especiais, estofos em pele...?
Será com o rendimento mínimo que recebe que paga a carrinha ?
Se calhar !
Vão à quinta da mina, que essas carrinhas estão lá estacionadas, ou depois de almoço na Avenida da praia no barreiro.
Mas que GRANDE GRANDE Comentário, Parabéns concordo em tudo
Parabéns pelo comentário que põe a nú a verdade sobre a Quinta da Mina e a vontade que as pessoas de etnia cigana têm em integrar-se na sociedade. Só querem direitos e sobre deveres ninguém fala. Injustiça social é o Estado ajudar quem não contribui para a sociedade e pactuar com essa gente que já aprendeu depressa a chular, sem ter de dar nada em troca. É uma pouca vergonha e quem os defende nem sabe o que diz e só está a alimentar uma ideia falsa e a alimentar parasitas e a criar um ciclo vicioso. Quem paga é o cidadão trabalhador e essa gente leva tudo de borla. Aliás, gostava que também me explicassem como é que alguém que não trabalha tem um audi TT à porta do seu prédio sujo! Isto é gozar com as pessoas sérias que trabalham a sério para pagar a sua casa (que estimam, cuidam e limpam) o seu carro e a escola dos filhos.
CHEGA DE DEMAGOGIA!!
Portanto, só quem cumpre os seus deveres poderá exigir que se respeitem os seus direitos.É isto? Se é, tb concordo.
Mas que fazer aos outros ciganos que criaram o problema da Mina e o outro que aqui se discute??!!
Elegê-los de novo?
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